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Vivia a vida sem se preocupar com o amanhã e com tudo o que este pudesse trazer. Afinal o amanhã parecia-lhe sempre tão distante e nem sequer sabia se conseguiria lá chegar. Para quê pensar em algo que era ainda tão incerto? Apenas se preocupava com o hoje, com o momento presente no qual tudo o que ela fazia teria consequências na sua vida, e ela tinha de fazer as escolhas certas para que não só o amanhã mas também o hoje valessem a pena. Queria começar por ser feliz hoje e amanhã logo se veria o que a vida lhe reservava. Era por isso que ela vivia o hoje tentando aproveitar cada bocado porque agora isso é tudo o que importa.
"O tempo passa. Mesmo quando tal parece impossível. Mesmo quando cada tiquetaque do ponteiro dos segundos dói com o palpitar do sangue sob a ferida. Passa de forma irregular, em estranhos avanços e pausas que se arrastam. Mas, lá passar, passa. Até para mim."
Lua Nova
Quando as coisas lhe corriam mal ela refugiava-se no seu quarto, onde sabia que estaria apenas acompanhada pela solidão e pelo silêncio. Era no seu quarto que se sentia segura, pois era ali que estavam todas as coisas que eram importantes para ela. Sentava-se no cadeirão que se encontrava num dos cantos do quarto e pegando num dos seus muitos livros começava a ler páginas ao acaso. Embrenhava-se de tal maneira na história que perdia a noção do tempo. Era naqueles momentos que se esquecia de tudo o que estava do outro lado da porta. Por vezes tinha vontade de nunca mais sair dali, do conforto do seu quarto. Era o seu mundo e sabia que ninguém entraria naquele espaço que era seu. No fundo o seu quarto era o seu esconderijo.
Ficou ali a vê-lo partir, como se fosse desaparecer da sua vida para sempre. Não devia lamentar isso, afinal ele apenas fizera o que ela lhe pedira. Como gostaria de não ter pronunciado aquelas palavras fatais, palavras essas que levavam a sua felicidade para longe. Quem lhe dera ser possível substituir aquelas palavras por outras mais doces, como lhe gostaria de dizer o quanto ele era importante para si e como respirar se tornava tão difícil quando ele estava longe. Agora ficariam tão afastados como se tivessem o mundo entre eles. Como é que ela ia viver assim, sem ar?
O que é a amizade afinal? Por mais que tente acho que nunca vou saber verdadeiramente o seu significado. Quando penso que o sei, aparece alguma coisa que me faz voltar a ter duvidas. Sei apenas que os nossos amigos não precisam de ser aqueles com quem nos podemos cruzar na rua todos os dias ou aqueles com quem nos podemos sentar a conversar. Por vezes as verdadeiras amizades estão a quilómetros de distância, e no entanto é dessas pessoas que nos sentimos mais próximos. Apesar de não as vermos sabemos que estão sempre lá. Perguntam-nos como estamos, não por perguntar mas sim porque se preocupam connosco. Nessas amizades conhecemos apenas o interior da pessoa sendo esse o mais importante. Não as julgamos pelo seu aspecto assim como elas não nos julgam pelo nosso. Gostamos delas sem saber porquê, mas afinal elas aparecem na nossa vida também sem sabermos porquê. Sei também que os amigos se contam pelos dedos e sei que na maior parte das vezes uma mão chega para os contar.
Este texto é principalmente para ti B., obrigada por seres uma das minhas amigas que vive a quilómetros de distância de mim :)